CANAL DE SÃO ROQUE

CANAL DE SÃO ROQUE

Foto de Gabriel Pereira




segunda-feira, 13 de julho de 2015

REENCONTRO COM ALBERTO CAEIRO



Imagem retirada da net



REENCONTRO COM ALBERTO CAEIRO
Carlos Pereira
 
 
Por vezes, damos voltas e voltas e mais voltas
para no fim voltarmos ao ponto de partida.
Por que acontece este desígnio iniludível?
Não sabemos. Ou melhor sabemos; não sabemos é dizê-lo
por palavras que todos entendamos.

Se ao menos nesse tempo todo em que fomos completamente inúteis,
olhássemos com naturalidade para as coisas,
mesmo as mais insignificantes como uma flor ou uma pedra;
não para saber o nome da planta ou o seu período de floração e
saber se a pedra é xisto, um pedaço de calcário ou granito,
mas antes, apreciar o belo colorido da flor tratada com esmero
e as arestas bem delineadas da pedra, por mãos hábeis de incógnitos,
jardineiro e canteiro, que emprestam todo o seu saber sensível
para dar beleza ao jardim da nossa vida e tornarem mais agradável
a apreciação sensorial daquilo que nos rodeia.
 
Quando gostamos de algo dizemos que é bonito;
quando não gostamos dizemos que é feio;
quando não é bonito nem feio, dizemos que é diferente.
Mas se é diferente, qual o padrão de referência que usámos;
o bonito ou o feio?
Tenho para mim que quando dizemos que é diferente,
é porque também nessa circunstância não sabemos dizer
por palavras entendíveis a razão intrínseca dessa diferenciação.
 
Nem aos poetas, a quem todos os devaneios da palavra são consentidos,
é permitido afirmar que a natureza é circunstancialmente diferente.

A natureza pode ser mutável e é-o certamente;
poder ser bonita ou feia, mas nunca diferente;
se fosse diferente deixava de ser natureza e
passava a ser um homem, um ser marinho, uma estrela ou um deus.
 
Nunca me senti tão próximo de mim e de ti, poeta,
como neste labirinto de ideias e palavras.
 

 

Aveiro, 11 de Março de 2015

Publicado no Diário de Aveiro




quarta-feira, 1 de julho de 2015

SONETO PARA JOSÉ SARAMAGO







Foto retirada da net



SONETO PARA JOSÉ SARAMAGO
Carlos Pereira
 


Tua escrita, genuína, tem percurso verosímil;
Água límpida de todos os rios do nosso alento.
São flores de todos os jardins de Abril;
São aves a voar e a renascer a cada momento.
 
Nasceste, pobre, em Azinhaga no ano de mil,
922. Enobreceste a Língua com o teu grado talento
E premiaram-te com o Nobel sem seres servil;
Tua obra será sempre um farol de luz, isento.
 
Teu estro tornou teus livros magnânimos,
Sobrelevando a estirpe da nossa Pátria-Mãe;
O mesmo estro que levou as naus mais além.
 
Teu engenho e juízo foram os maiores ânimos
Que elevaram tua obra ao Olimpo dos imortais;
Feito e memória, imperecíveis, para além dos anais.


Aveiro, 29 de Janeiro de 2015

Publicado no Diário de Aveiro