Foto de Carlos Pereira
A ESPLANADA
Carlos
Pereira
Estou
sentado na esplanada numa praça
Centenária
prenhe de história.
À
minha volta estão outras pessoas também sentadas.
Conversam.
Não sei do que falam; ouço apenas
Uma
algaraviada num rumor babilónico.
Tomo
o café em sorvos ritmados num ritual
Tão
antigo como esta praça, que outrora foi
Mais
buliçosa e cosmopolita.
Havia
a livraria do senhor Abraão onde se compravam
Os
famigerados, papel selado e selos fiscais que,
Validavam
os contratos e as nossas vidas.
Havia
a tasca do Agostinho, onde se bebia um copo
De
tinto ou branco a borbulhar da pipa ao fim da tarde para,
Dissipar
as frustrações do dia.
Nenhum
dos circunstantes olha a vetusta praça.
Estão
aqui sentados como podiam estar
Noutro
lugar qualquer, porque o que os move, é
Aquele
cavaquear indistinto que serve de som de fundo
Aos
meus íntimos pensamentos e ao olhar saudoso
Para
a praça ancestral de brilho balsâmico.
Dou
comigo a recordar o bulício que as pessoas
Emprestavam
nos afazeres do dia-a-dia.
Quantos
dramas transportavam com as suas vidas?
Quantas
se detinham (como eu) a olhar a praça para,
Absorver
a exalação dos seus odores e a luz
Amenizadora
dos dias de incerteza?
Acabei
de beber o café. Levanto-me como me sentei;
Indiferente
aos olhos deste auditório desapaixonado,
Que
não deu por mim, nem olhou a praça.
Aveiro,
04.06.2012