Foto de Carlos Pereira
QUADRAS SOLTAS
Carlos Pereira
Em todo e qualquer momento,
sejamos vigília e contemplação.
Dêmos o mesmo deslumbramento
à obra do homem e à da criação.
Um fruto de cor madura
adormece no oásis do Outono,
enquanto uma aurora pura,
amadurece no meu sono.
Um búzio ecoa o grito distante
de uma ave triste sobre o mar,
enquanto numa vaga desafiante
outra ave, descansa, de tanto
voar.
O mar extenuado canta uma canção
triste
de um velho sábio marinheiro
perdido.
Na praia, de joelhos dobrados,
uma viúva resiste
à morte do seu homem, tristemente,
vencido.
Pelas veredas da vida, subi,
mas ainda me falta chegar.
São mais os passos que previ
que os sonhos por sonhar.
Já não há barcos para o meu rumo
nem mares para sonhar.
Uma vela cai a prumo;
é o meu sonho a naufragar.
A cada dia que passa
rejuvenesce o Universo.
Por cada estrela se faça
um rio a correr dentro do verso.
Queira o tempo que nos ensine
A insânia de cada momento.
Só a sã sobriedade previne
a soberba e a falta de provimento.
Por que outro nome te chamaria,
além de amor,
além de Maria?
Talvez fruto ou flor.
No voo dissimulado do rapace
há um augúrio de morte.
Presa e predador em desenlace
de desigual sorte.
Aveiro
2016
Publicado
no Diário de Aveiro
Nenhum comentário:
Postar um comentário