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SINTO-ME
SERENO (Poema para minha Mãe)
Carlos
Pereira
Sinto-me
sereno, ante o olhar penetrante do centauro
que
me visitava nos meus sonhos
nas
longas horas de inverno.
Abri
todas as portas da minha infância e,
eu
ainda estou lá, no teu colo, a preparar a eternidade
num
lago cheio de nenúfares e palavras.
Que
farei com as palavras?
Saberei
dar-lhes vida e negar-lhes a morte
numa
cama eterna de um rio,
desde
a inquietante nascente até à presunçosa foz?
Quem
as lerá, sabendo-as minhas?
Sabendo
que mas deste
com
a simplicidade de quem dá uma flor ou um livro.
Quem
as guardará?
Sabendo
que as uso para te tornar viva nas minhas lembranças.
Sinto-me
sereno, ante as minhas palavras;
escrevendo-as
todas, irei encontrar-te em outro lugar.
As
palavras continuarão a ser só palavras, não mais do que isso;
eu,
serei apenas eu, a lembrar-te.
A
promessa das palavras vindouras,
alvoroçará
o perverso movimento perpétuo do tempo;
e
se no entremês desse desígnio, sobrarem só silêncios e
grotescas
sombras, terei que reatar a vigília do poema
para
que as suas palavras sejam, dentro de mim,
a
água que das fontes secou, e, nelas, saciarei a sede
da
minha doce loucura.
Sinto-me
sereno, porque em cada poema que faço
com
as minhas palavras em vez de inúteis lágrimas,
perpetuarei
a tua memória para além da inevitabilidade
dos
destroços que a tua saudade gerou.
Aveiro,
9 de Abril de 2015
Publicado
no Diário de Aveiro
Memória viva
ResponderExcluir"Abri todas as portas da minha infância e,
ResponderExcluireu ainda estou lá, no teu colo" Maravilhoso!
Um poema muito comovente e uma homenagem muito bela.
Um beijo, meu amigo.