Foto de Salete Pereira
Ó PAI,
VAMOS BRINCAR, A QUÊ?
Carlos
Pereira
Já vai longo o rio de sangue que nos une
e a
nascente que ficou para trás persegue-me.
Há memórias
e imagens que flutuam
nesse
rio de sangue; planície fértil, alento,
âncora
da nossa feérica existência.
Nada tenho
para deixar a não ser,
a
certeza de vos querer bem.
Não
conspurquem a Natureza nem desmotivem
o
sensato movimento da Terra.
Olhem
o entardecer crepuscular à beira-mar;
façam-no
por mim, ainda que esse gesto, seja
uma
luz ínfima para evitar
o
desmoronamento da casa-Mãe.
Nunca
vos disse do amor que nutro;
o amor
não se diz, não é palpável, sente-se
desde
a raiz das veias até à copa da alma.
O
vosso choro infantil é nostalgia redobrada,
e o
vosso olhar, aceitando-me com os defeitos
do
barro criador, penetra-me a carne,
com a
mesma felicidade quando vos ouvia:
Ó pai,
vamos brincar, a quê?
Aveiro, 19 de Junho de 2017
Publicado no Diário de Aveiro
Lindíssimo poema!
ResponderExcluirUm beijo e desejos de um excelente Natal e de um ano novo cheio de bênçãos.
Porque não dizer do amor? Dizê-lo é florescê-lo ainda mais.
ResponderExcluirMagnifico poema paternal.