Foto de Salete Pereira
TEMPO DE PROCRASTINAR
Carlos Pereira
Ainda estou dentro do labirinto,
mas não estou só.
Ninguém está só
dentro de um labirinto.
Levantadas foram, nesta impura
primavera,
barreiras propugnadoras para salvar-nos
de gigantescos escombros e as
andorinhas,
imunes às nossas desgraças,
abjurando as medonhas revelações,
regressaram como sempre aos eleitos
beirais.
Olho de soslaio este tempo provisório,
sitiado por muros invisíveis, na
esperança
de no vindouro verão,
ver colher o fruto das searas e achar
o caminho desanuviado do outono,
para percorrer os atalhos de densas
noites
nas praias do mar de antigamente,
onde as sinistras sombras lembrarão
inúteis naufrágios.
Liguemos as mãos sem dedos blasfemos,
sem vacilar perante o silêncio e o vazio do céu,
para regressarmos ao celeiro do inverno
como filhos pródigos regenerados por
luz catarsia,
seguindo o futuro com pés de criança.
Aveiro, 30 de Março de 2020
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