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REENCONTRO COM ALBERTO CAEIRO
Carlos Pereira
Por vezes, damos voltas e voltas e mais voltas
para no fim voltarmos ao ponto de partida.
Por que acontece este desígnio iniludível?
Não sabemos. Ou melhor sabemos; não sabemos é dizê-lo
Por que acontece este desígnio iniludível?
Não sabemos. Ou melhor sabemos; não sabemos é dizê-lo
por palavras que todos entendamos.
Se ao menos nesse tempo todo em que fomos
completamente inúteis,
olhássemos com naturalidade para as coisas,
mesmo as mais insignificantes como uma flor ou uma
pedra;
não para saber o nome da planta ou o seu período de
floração e
saber se a pedra é xisto, um pedaço de calcário ou
granito,
mas antes, apreciar o belo colorido da
flor tratada com esmero
e as arestas bem delineadas da pedra, por mãos
hábeis de incógnitos,
jardineiro e canteiro, que emprestam todo o seu
saber sensível
para dar beleza ao jardim da nossa vida e tornarem
mais agradável
a apreciação sensorial daquilo que nos rodeia.
Quando gostamos de algo dizemos que é bonito;
quando não gostamos dizemos que é feio;
quando não é bonito nem feio, dizemos que é diferente.
Mas se é diferente, qual o padrão de referência que
usámos;
o bonito ou o feio?
Tenho para mim que quando dizemos que é diferente,
Tenho para mim que quando dizemos que é diferente,
é porque também nessa circunstância não sabemos
dizer
por palavras entendíveis a razão intrínseca dessa
diferenciação.
Nem aos poetas, a quem todos os devaneios da
palavra são consentidos,
é permitido afirmar que a natureza é
circunstancialmente diferente.
A natureza pode ser mutável e é-o certamente;
poder ser bonita ou feia, mas nunca diferente;
se fosse diferente deixava de ser natureza e
passava a ser um homem, um ser marinho, uma estrela
ou um deus.
Nunca me senti tão próximo de mim e de ti, poeta,
como neste labirinto de ideias e palavras.
Aveiro,
11 de Março de 2015
Publicado
no Diário de Aveiro
Um belo encontro, Amigo. Esse olhar com naturalidade para as coisas e amar a natureza que dizer que o Alberto Caeiro conseguiu inspirá-lo...
ResponderExcluirBeijo.
Não é nada fácil olhar para as coisas sem as comparar com outras.
ResponderExcluirEsse seria um dos desafios de Fernando Pessoa enquanto Alberto Caeiro.
E o Carlos produziu um excelente poema acerca do assunto.
Tenha um bom fim de semana.
Abraço.
Olá, Carlos.
ResponderExcluirForma interessante de se encontrar com Caeiro e com Pessoa.
abç