CANAL DE SÃO ROQUE

CANAL DE SÃO ROQUE

Foto de Gabriel Pereira




quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

A NOSSA LÍNGUA



carcere peniche
Foto retirada da Net



A NOSSA LÍNGUA
Carlos Pereira


Não!
As palavras não são a nossa Língua,
Enquanto das encostas resvalarem fantasmas
Que se agitarão nos vales da noite;
Enquanto dormitarem almas sofridas
Na lareira onde arde o azinho dos nossos antepassados.
A nossa Língua só será de palavras
Quando esvaziarmos todo o sofrimento,
Dos cárceres que construímos.


Aveiro, 24.11.2011

domingo, 20 de novembro de 2011

RESISTIR



Foto de Carlos Pereira




RESISTIR
Carlos Pereira


Quero renascer das minhas entranhas;
Projectar os meus medos num mar incendiado.
Sorver cada gota de orvalho em todas as manhãs;
Sentir o odor da esperança em cada sonho.
Partir com a certeza de que não haverá náufragos
Nos mares da minha intranquilidade.
Resistir com um sorriso estóico,
Mesmo que todas as minhas veias chorem.
Inventar novas armaduras, para os silêncios
Que me atormentam.
Descobrir novas longitudes e rasgadas latitudes 
Que me devolvam as naus do conhecimento.
Caminhar nos sulcos da terra lavrada;
Abraçar as searas de trigo
Que serão destinos de paz, na minha rota.


Aveiro, 17.10.2011

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

O COMODISTA



Foto retirada do Google








O COMODISTA
Carlos Pereira



Raramente se revê na luta dos outros.
Passas demasiado tempo no aconchego do conforto
Dos eufemismos que te subornam;
Que te corrompem, que te prostituem,
Que te apodrecem os músculos e os tendões,
Que te coagulam o sangue.
Serei a sentinela que nunca te deixará adormecer
No colchão da tua delinquência;
Serei o repórter urbano das palavras que te incomodarão
Até à medula da tua última geração,
Para que te revejas sempre, na luta dos outros.



Aveiro, 20.10.2011






domingo, 23 de outubro de 2011

SEARAS DE POESIA



Foto de Carlos Pereira



SEARAS DE POESIA
Carlos Pereira



Viajo no interior da seiva da palavra
Para que nunca agonize o meu verso;
E assim, do trono etéreo, minha musa lavra
Searas de poesia em mármore terso.


Do mar venha um vento brando, embalado
Em barcos de sal e ondas de fúria mansa,
Que levará meu poema na pedra talhado,
Por rotas e impérios onde a palavra não cansa.


Ambiciono ser rico; não de ouro ou vil metal;
Ter a palavra como bem mor, minha fortuna,
Pluralidade de versos, herança universal.


Da inspiração, quero o meu dom bem fecundo.
Da palavra, quero a força do orador na tribuna.
Do meu poema, quero ser voz de infante, no mundo.




Aveiro, 30.03.2010

Publicado na revista NORTADA



domingo, 16 de outubro de 2011

O ÚLTIMO POEMA



Foto de Carlos Pereira



O ÚLTIMO POEMA
Carlos Pereira


Esta rua é demasiado estreita
Para nós, para os nossos sonhos.
Há muito que devíamos ter partido,
Deixar tudo para trás;
A raiz, o tronco, os ramos, as folhas,
Das nossas horas desbotadas.
Levávamos, apenas, o nosso amor.
Pelo caminho, falávamos só com o vento
E com as flores que nos acenassem.
Recordávamos os dias felizes e os dias
Em que o Sol, secou as lágrimas
Às estrelas que nos visitam.
Deixávamos uma carta para tranquilizar
Os muros e as sombras e a água do riacho
Que apaga o incêndio dos nossos silêncios;
Prometendo o regresso quando chegar
A hora de fazer, o último poema.



Aveiro, 07.10.2011







                              

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

BELOS E DECENTES



Imagem retirada do Google




          

BELOS E DECENTES
Carlos Pereira


Hoje, vou fingir que vivo num país decente
Ainda que não lucre nada com isso.
Todos devíamos fingir que vivemos num país decente.
Assim, talvez fosse mais decente este país,
Que não tem, de decência, quase nada.
Podia-se começar por melhorar as pessoas,
Não no seu lado estético.
Para isso, já existem os mil e um cremes anti quase, tudo;
A cirurgia estética, os prodígios do “silicone” e os SPAS;
Tudo ferramentas, para modificar ou melhorar,
O lado que menos interessa a um país decente.
Não se pode perder tempo com o seu lado supérfluo
Quando há tanto para fazer no seu lado intrínseco.
É urgente, é necessário, que saibamos transformar
O nosso percurso interior na persecução
De uma sociedade, em que todos nos sintamos,
Belos e decentes.

Aveiro, 15.09.2011

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

DEFRONTE DA MINHA CASA



Foto de Pedro V retirada da net






DEFRONTE DA MINHA CASA
Carlos Pereira


Defronte da minha casa há uma casa igual à minha
Só porque tem janelas e portas, mas não é da mesma cor;
A minha é branca, toda branca,
Menos a faixa em baixo a toda a volta que é azul;
Azul muito escuro, tão escuro que parece preto.
Quase toda a gente pensa que é preto, mas não é.
É azul. Se fosse preto, pensariam que era azul?
-Às tantas, se calhar.
Há pessoas que confundem as cores
E não se preocupam com isso. Fazem bem.
Que importância tem não saber a cor das casas
Ou até, confundi-las, mesmo que seja de propósito.
O que não podemos confundir são as pessoas
Que moram dentro delas ou fingem morar.
Nunca olho pela janela da minha casa
Para a casa defronte igual á minha,
Que não é toda branca nem tem a faixa azul,
Escuro, que parece preto.
Assim, não confundo as cores, nem as pessoas.


Aveiro, 16.09.2011



quarta-feira, 21 de setembro de 2011

NA PRAIA AQUÉM MINHO




Praia de Samil - Vigo
Foto retirada da Net




NA PRAIA AQUÉM MINHO
Carlos Pereira

 
O grito da gaivota, redesenhou
As marés dos meus dias de ócio,
Na praia aquém Minho.
Julguei-me órfão das copas dos pinheiros
E da bonomia das montanhas de olhar perdido,
Em horizontes em que o meu próprio olhar
Se perde e se delicia,
Na praia além Minho.
Ainda bem que trouxe comigo
Todas as palavras para este pôr-do-sol,
Num mar onde posso escrever
Os barcos que repousam na areia;
E que levarão a minha saudade.

Vigo, Praia de Samil, 28.07.2011


segunda-feira, 12 de setembro de 2011

O AR DENSO DA CIDADE



Foto de Carlos Pereira









O AR DENSO DA CIDADE
Carlos Pereira


O ar denso da cidade, aperta como tenazes,
A epiderme angustiada da minha garganta.
Na avidez de sufocar, te comprazes;
Sem broquel teu odor oxidado se agiganta.

Ó Deuses desçam da bruma impura, audazes;
Iluminem o breu da noite sacrossanta
De todos os homens, para que sejam capazes
De purificá-lo, por cada voz que já não canta.

Que o coração humano não seja, exânime,
No crer da bondade para o dorido mundo;
Mesmo que a maldade e a injustiça, o desanime.

Que a luz obstinada da sabedoria seja, o fanal,
Para iluminar o caminho insano e profundo,
Que torne o mundo num jardim universal.

Aveiro, 16.02.2011
Publicado no Diário de Aveiro


terça-feira, 6 de setembro de 2011

HOJE ACORDEI NEM TRISTE NEM CONTENTE



Foto de Carlos Pereira






HOJE ACORDEI NEM TRISTE NEM CONTENTE
Carlos Pereira


Hoje, acordei, nem triste nem contente.
Acordei assim, assim.
Sei que vou viver este dia
Tão igual aos outros em que acordei assim.

Farei um esforço para perceber os mistérios do Universo.
Por cada pulsar de vida que meus olhos fixarem,
Hei-de estar mais perto dos saberes dos homens;
Não da Verdade, que dessa, não vou saber nunca.



Aveiro, 08.03.2011











quarta-feira, 31 de agosto de 2011

TODA A POESIA É BOA



Esculturas com areia do rio do escultor José Monteiro
Foto de Carlos Pereira






TODA A POESIA É BOA
Carlos Pereira


Toda a poesia é boa
Para que a dor não doa.
Mais do que entendê-la,
É preciso saber lê-la.


Aveiro, 21.02.2011
                                  

PONTO POR PONTO



Foto de Carlos Pereira



 PONTO POR PONTO
 Carlos Pereira



 Ponto
 Que desponta
 A contra-ponto,
 Na ponta

 Aponto
 O afronto
 Que confronta
 De pronto
 
 Encontro
 Desencontro
 
 Acrescenta um ponto,
 Quem conta
 Um conto
 Ponto por ponto
 Ponto


 
 Aveiro, 18.01.2011

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

SEMPRE AMEI A POESIA



Foto de La Salete Pereira


                      
 SEMPRE AMEI A POESIA       
 Carlos Pereira


 Sempre amei a poesia!
 Acho que muito antes de o perceber.
 Agora ainda amo mais, creio;
 Quanto mais a leio
 Mais vontade tenho de ler,
 Embora não tanto como merecia.

 Escrevo, amando as palavras
 Sem excepção, assim o digo;
 Como uma mãe ama seus filhos,
 Protegendo-os com mil cadilhos.
 Meu filho verso, bendigo;
 Fruto da musa mãe, que meu poema: lavras.

 Aveiro, 28.01.2011 

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

VELHICE



Foto de Carlos Pereira



        
VELHICE
Carlos Pereira


A velhice não é senão o momento
Do tempo que ainda sobra;
Desfiar de memórias, lamento,
D’aquilo que a vida cobra.

Quem das tormentas, o cabo dobra,
         Colhendo desse feito, ensinamento;
Molda o barro da vida, cria obra,
E do pão da sabedoria, alimento.

O passado é o seu ancoradouro,
Donde o barco teima cumprir a rota
Do desígnio que lhe coube em sorte.

Do seu olhar o brilho ainda é d’ ouro,
Cúmplice d’ um grande amor que se nota;
De tão grande, viverá depois da morte.


         Aveiro, 30.01.2011

Publicado na Revista NORTADA do SBN







                              

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

TODO O CÉU CHOROU



Foto de La Salete Pereira



           TODO O CÉU CHOROU
       Carlos Pereira


       Agora, que já tudo sossegou
       Que o vento é, tão só, uma brisa d´um suspiro meu;
       Todo o céu chorou
       As lágrimas; que já foram d´um choro teu.

       As nuvens que passam são bocados de ti;
       São sonhos do meu dormir
       Que eu acordado, contigo, já vivi;
       Agora, só falta sonhar-te a sorrir.

       Aveiro, 17.02.2011
      
      

      




domingo, 31 de julho de 2011

PROMESSA



Foto de Gabriel Pereira






PROMESSA
Carlos Pereira


Prometo, se me levares a ver o mar…
Enquanto durar a contemplação,
Vou dar-te a mão sem nunca falar;
Apenas os meus olhos, poemas, te dirão.




Aveiro, 16.05.2011




                              



quinta-feira, 21 de julho de 2011

NUNCA ME PERDOARIA



Foto de La Salete Pereira



            NUNCA ME PERDOARIA
           Carlos Pereira


Nunca me perdoaria, nunca, se hoje,
Que o teu sorriso acordou comigo;
Meu amor probo, de ti, se desaloje.
Ah! Esquecer-te, amor, já não consigo.

Meu desejo em flor aos teus pés se arroje!
Teu coração em forma de ninho, dê abrigo
Ao meu, qual colibri que do mel não foge,
Ou pássaro, que na seara procura o trigo.

Teu amor será húmus para a minha alma ávida.
Sequiosa, do teu vinho doce bebera,
D’ um trago, minha boca sôfrega, ressequida.

        Dar-te-ei em cada manhã de Primavera
Um poema e uma borboleta colorida,
E beijos de mil desejos; como ninguém te dera.


Aveiro, 24.05.2011

sexta-feira, 15 de julho de 2011

NO REGAÇO DA MINHA MÃO



Foto de La Salete Pereira


                
                        
NO REGAÇO DA MINHA MÃO
Carlos Pereira


        De mim, as pessoas esperam sempre mais.
Por coincidência, ou talvez não,
Também eu espero sempre mais de mim;
Ainda que mais, seja apenas um pouco mais que pouco.
Ou talvez nada.
Nada não, porque nada, é menos que pouco.
Tem que ser um pouco mais que nada.
Tem que ser mais uma flor à beira da estrada,
Um raio de sol na noite escura.
Chama que ri enquanto a vela dura.

Tem que ser mais um traço
No retrato da vida em união;
Tem que ser mais um abraço
No regaço da minha mão.

Aveiro, 29.03.2010