CANAL DE SÃO ROQUE

CANAL DE SÃO ROQUE

Foto de Gabriel Pereira




sábado, 30 de junho de 2012

CANÇÃO DE AMOR



Foto retirada da Net








CANÇÃO DE AMOR

Carlos Pereira




Esta fenda lúgubre, sangrando, talhada no meu peito,

Faz-me recordar tantos amores, alguns de vã glória.

Amar e ser amado, será desígnio? Será um direito?

Ó amantes incorruptos: guardai-os, sempre, na memória.



Este meu corpo torpe, definhando, sorte que mal aceito,

Traz-me tantas recordações, má fortuna, felicidade inglória.

Sublime amor me dás em troca de quase nada, minguado preito,

Te presto neste poema, sentido, de comezinha inspiratória.



A minha vida é uma montanha a parir amor contigo,

Cheia de flores campestres e beijos com sabor a mar

A eclodir, fieis desejos, no teu ventre níveo bendigo.



Agora tenho quem me ama e aceita esta vontade de sonhar;

Quem faz de mim, decrépito amante, seu porto de abrigo.

Se te disser que te amo, acredita, é o meu coração a falar.



Aveiro, 21.04.2012

quinta-feira, 28 de junho de 2012

HAICAIS



Foto retirada da Net








HAICAIS
Carlos Pereira

………………………………………
Esparso medo,
chacina feroz. Indigna
Auschwitz manhã-cedo.
………………………………………
Enola Gay, mãe e morte
sobre Hiroshima. Pobre
gente sem sorte.
……………………………………….
Grito da terra.
Prodígio versus martírio,
mãos sujas da guerra.
……………………………………….

Aveiro, 21.06.2012












domingo, 24 de junho de 2012

HAICAIS



Foto retirada da Net







HAICAIS

Carlos Pereira



………………………………………

Aranha tece a morte;

geometria de seda. Sombria

no golpe de sorte.

………………………………………

O ar incendeia
quente o beijo pendente.
Corpos na areia.
………………………………………

O vento rodopia

impante. Sopro constante,

força e energia.

……………………………………….


Aveiro, 18.06.2012








sábado, 23 de junho de 2012

SEGUIREI O RUMO DO RIO

Foto de Carlos Pereira






SEGUIREI O RUMO DO RIO

Carlos Pereira



Esta réstia de sol há-de dar luz ao meu olhar

Para seguir o caminho imposto pelo mapa ancestral,

Desbotado por nuvens negras, impelidas pelo enigma do fim.

Só me ensinaram o princípio do caminho;

Nem sequer me guiaram os passos no asfalto do inferno.

Seguirei o rumo do rio até ao abraço do mar,

Que me aceitará como seu dilecto filho.

Em breve, também tu, ó rio lento e cansado

De refazer destinos desfeitos,

Repousarás nas profundezas do seu reino.



Aveiro, 31.05.2012

sexta-feira, 22 de junho de 2012

HAICAIS



Foto de Gabriel Pereira





HAICAIS
Carlos Pereira

……………………………….

Alga submersa
tímida e bela. Límpida
claridade dispersa.

……………………………….

Uma vela de sal
obscura. Lágrima futura
 no mar de Portugal.

……………………………….

Mar universal,
astrolábio. Marinheiro sábio:
veleja Portugal.


Aveiro, 17.06.2012

terça-feira, 19 de junho de 2012

A MINHA VOZ SUBSISTE



Foto de Carlos Pereira





A MINHA VOZ SUBSISTE
Carlos Pereira


Trago o destino às costas e,
Não me canso.

Trago o sol nos olhos e,
Não me deslumbro.

Trago a noite na alma todo o dia
Até voltar a ser noite e,
Não esmoreço.

Trago a esperança num oásis
Que não distingo e,
Não desisto.

Trago a aridez do deserto
Na secura da minha boca e,
A minha sede resiste.

Trago as palavras mortas de fome e,
A minha voz subsiste.


Aveiro, 17.06.2012






sábado, 16 de junho de 2012

HAICAIS



Foto de Carlos Pereira





HAICAIS
Carlos Pereira

…………………………………

Da metáfora
surge a estrofe. Urge
o poema agora.

………………………………….

Ouço da tua voz
nítido som oprimido,
morte ao algoz.

…………………………………

Dorme meu menino!
A avó vai cantar-te o sol-e-dó,
sonha pequenino.


Aveiro, 14.06.2012

quinta-feira, 14 de junho de 2012

ONDE A MINHA SEDE SE DESSEDENTA



Foto de Carlos Pereira





ONDE A MINHA SEDE SE DESSEDENTA

Carlos Pereira



Sob a tua pele correm rios de água lenta

A transbordar de nascentes distantes,

Onde a minha sede se dessedenta.


Pura, serás, em cada maré que o teu corpo se der

E a minha boca, mendiga e ávida, te beber.


Aveiro, 03.06.2012


segunda-feira, 11 de junho de 2012

HAICAIS



Foto de Salete Pereira





HAICAIS
Carlos Pereira

………………………………………….

Os ramos agarram-se
Ao tronco da mítica árvore,
A folha morre só.

………………………………………….

Sibila o vento frio.
Ruge a fera no cimo do monte,
Maior é o teu grito.

…………………………………………..

Agoniza o triste rio
Na mortalha lúgubre das margens,
Nossas mãos de coveiro.


Aveiro, 10.06.2012



sexta-feira, 8 de junho de 2012

HAICAIS



Foto retirada da Net




HAICAIS
Carlos Pereira

…………………………………....
Florescem as rosas
E as laranjeiras na primavera,
Colhe o pólen a abelha.

…………………………………....

Crocita o corvo no céu
E adensam-se escuras nuvens;
Morreu a linda ave.

…………………………………....

O fogo assassino,
Queimou a indefesa árvore.
Quem chora a Terra?

…………………………………......

Aveiro, 03.06.2012

terça-feira, 5 de junho de 2012

CANÇÃO DE SONHAR



Foto de Carlos Pereira





CANÇÃO DE SONHAR

Carlos Pereira



Guardarei sempre no coração

As sílabas que me acariciam os lábios

Quando pronuncio o teu nome



Silenciarei sempre o eco dos teus passos

Se te afastarem de mim no rasto luminoso de ti

Quando persigo o teu caminho



Seguirei sempre as pegadas da tua alma

No bosque triunfante da nossa existência

Quando respiro o teu halo de luz



Adormecerei sempre no sono efémero

Da estrela mais distante que viaja no nosso sonho

Quando proclamo o teu amor



 Aveiro, 22.05.2012











sábado, 2 de junho de 2012

QUASE UM RETRATO



Foto de Carlos Pereira






QUASE UM RETRATO
Carlos Pereira


Sol-posto Sol poente!
Nesta praia que tanto gosto;
Há tanta gente descrente
A abandonar o seu posto.


Meia volta
Roda-viva,
Quem me solta
E me não priva.


Jaqueta apertada
Cavalo elegante:
Abaixo a tourada
E a morte num instante.


Obrigado senhor doutor!
Grato senhor-ministro
Pelo pão com bolor;
Encomendo-vos a Cristo.


Já fui rei sem povo
E ao povo me dei;
Voltaria a ser de novo
Pastor da minha grei.


A montanha pariu um rato.
O gato comeu o bofe.
Este país é de facto
Um grande regabofe.


Diz o rei para o bobo:
- O povo sempre primeiro!
Olha que belo lobo
Vestido de cordeiro.


Ladrão que rouba a ladrão
É dele amigo ou sócio.
- Apenas desviei um milhão!
Trabalho? Só conheço o ócio.


Mar de vida mar de morte,
Meu barco a navegar.
Serei marinheiro com sorte
Se este País não naufragar.


O sorriso de uma criança
O grito do adolescente;
São a minha esperança
Para o Mundo, futuramente.


Ai Deus me valha!
Quem pouco faz enriquece.
Quem tanto trabalha
Tanto ou mais empobrece.


Tanto pobre na penúria
Tanta miséria encoberta
Tanto rico na luxúria;
Todos iguais na morte certa.


Este país de miséria
Tem fraca democracia.
Dos políticos é só léria
A corrupção é uma razia.


Este povo que se esfola
De tão pobre mete dó.
Mão estendida à esmola
Não tem lugar no forrobodó.


Orgulho português
É um sorriso rasgado.
Ao menos uma vez
Seja por todos, lembrado.


Calhou-nos em sorte
Sofrer e viver à míngua.
Antes que venha a morte;
Hei-de, cartar-te Pátria língua.


Aveiro, 05.05.2012