CANAL DE SÃO ROQUE

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Foto de Gabriel Pereira




sábado, 2 de junho de 2012

QUASE UM RETRATO



Foto de Carlos Pereira






QUASE UM RETRATO
Carlos Pereira


Sol-posto Sol poente!
Nesta praia que tanto gosto;
Há tanta gente descrente
A abandonar o seu posto.


Meia volta
Roda-viva,
Quem me solta
E me não priva.


Jaqueta apertada
Cavalo elegante:
Abaixo a tourada
E a morte num instante.


Obrigado senhor doutor!
Grato senhor-ministro
Pelo pão com bolor;
Encomendo-vos a Cristo.


Já fui rei sem povo
E ao povo me dei;
Voltaria a ser de novo
Pastor da minha grei.


A montanha pariu um rato.
O gato comeu o bofe.
Este país é de facto
Um grande regabofe.


Diz o rei para o bobo:
- O povo sempre primeiro!
Olha que belo lobo
Vestido de cordeiro.


Ladrão que rouba a ladrão
É dele amigo ou sócio.
- Apenas desviei um milhão!
Trabalho? Só conheço o ócio.


Mar de vida mar de morte,
Meu barco a navegar.
Serei marinheiro com sorte
Se este País não naufragar.


O sorriso de uma criança
O grito do adolescente;
São a minha esperança
Para o Mundo, futuramente.


Ai Deus me valha!
Quem pouco faz enriquece.
Quem tanto trabalha
Tanto ou mais empobrece.


Tanto pobre na penúria
Tanta miséria encoberta
Tanto rico na luxúria;
Todos iguais na morte certa.


Este país de miséria
Tem fraca democracia.
Dos políticos é só léria
A corrupção é uma razia.


Este povo que se esfola
De tão pobre mete dó.
Mão estendida à esmola
Não tem lugar no forrobodó.


Orgulho português
É um sorriso rasgado.
Ao menos uma vez
Seja por todos, lembrado.


Calhou-nos em sorte
Sofrer e viver à míngua.
Antes que venha a morte;
Hei-de, cartar-te Pátria língua.


Aveiro, 05.05.2012

















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