CANAL DE SÃO ROQUE

CANAL DE SÃO ROQUE

Foto de Gabriel Pereira




quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

COEXISTÊNCIA HARMONIOSA



Foto de Carlos Pereira




COEXISTÊNCIA HARMONIOSA
Carlos Pereira

 
Apraz-me todos os ócios que a Natureza me faculta,
tão grave é o desejo de comunhão entre o céu e a terra.
Tamanha é a crença que a minha alma exulta,
na absolvição dos desmandos entre o mar e a serra.

Se todo o mistério em si próprio se oculta,
na milenar rocha o código original se encerra.
A saga desmedida do homem hodierno sepulta,
a energia gasta, não na paz, mas na horrenda guerra.

Neste mundo desbotado hão-de nascer ideias novas
e serão cantadas, sem esmorecimento, joviais trovas,
na construção inadiável de humanizados trilhos.

Degrau a degrau, na aprendizagem de caminhar,
em passo estugado, resoluto, sem definhar,
mereçamos ser, criaturas do universo, dignos filhos.



Aveiro, 21 de Outubro de 2015
Publicado no Diário de Aveiro

 

 








 



domingo, 1 de novembro de 2015

EGRÉGIO ORGULHO PÁTRIO





Foto de Carlos Pereira




EGRÉGIO ORGULHO PÁTRIO                             
Carlos Pereira               

 
No gesto impalpável há fracturas de nós
nas epopeias redesenhadas no infinito.
Há um canto de aves que a uma só voz
invade o espaço primitivo do nosso grito.


 
No declínio da vontade não acredito
nem no renegar do chão dos nossos avós.
Haverá sempre um conveniente conflito
na construção da ponte onde seguimos sós.


 
Havemos de reacender a fogueira extinta.
Devolver as águas calmas ao renovado rio
e regressar todas as naus do cais do marasmo.


 
O egrégio orgulho pátrio, fervoroso, se sinta
em cada um de nós num ciclópico delírio.

No sangue, corra único, em dócil espasmo.


Aveiro, 29 de Junho de 2015
Publicado no Diário de Aveiro

in "Poetas d'hoje" Antologia III - Edição Grupo de Poesia da Beira Ria / Aveiro 2016



quinta-feira, 8 de outubro de 2015

LEVANTADO DO CHÃO













 Foto de Carlos Pereira







LEVANTADO DO CHÃO
Carlos Pereira
 
                        
                         Para José Saramago
 
 
 
Entre a madrugada nascida de prantos
e o revoltear, indomável, do vento norte,
há uma seara coberta de negros mantos;
prenúncio, insofismável, de fome e morte.
 
A cada golpe da foice, cerce, no loiro pão,
um tronco se levanta na revolta calada.
Da luta, infatigável, um levantado do chão
recusa as chagas da carne maltratada.
 
O tropel dos cascos já eriça a leve poalha;
nos olhos dos carrascos há chispas de ódio,
prontas a disparar a bala assassina, canalha;
o triunfo do trabalho, será certo, todavia serôdio.


Aveiro, 11 de Setembro de 2015  
Publicado no Diário de Aveiro

 

 


















 

 

 


sexta-feira, 25 de setembro de 2015

ICONOLOGIA POÉTICA






Foto de Carlos Pereira





ICONOLOGIA POÉTICA
Carlos Pereira
 
 
Não teço
fio nem barcos naufragados;
invento sonhos nunca sonhados.

 
Não meço
lonjuras nem mares agitados;
desenho horizontes nunca visitados.

 
Não esqueço
as palavras nem os poetas amados;
gravo na areia poemas imortalizados.

 
Não mereço
este imóvel cais de destinos cruzados;
vivo morrendo por teus beijos dados.

 
Não permaneço
no altar intangível dos afamados;
glorifico-me no reino dos ocultados.

 
Amanheço
em ti depois de longos sonos sobressaltados;
sou refém dos teus beijos salgados.

 
Desvaneço
de tanta crueza nos ódios exacerbados;
sou sêde de dias de paz adiados.

 
Não cesso
esta fantasia de poeta sem segredos;
condeno meus versos a duros degredos.

 
 
 
Aveiro, 20 de Junho de 2015




sábado, 22 de agosto de 2015

MERCADOS



Imagem retirada da Net




MERCADOS
Carlos Pereira
 
Sob as asas deste mundo
extemporâneo, louco,
tão grande na sua dimensão exterior
e tão pequenino, azedo,
nos interstícios do seu interior,
um ciclópico grito rouco
há-de levantar-se furibundo
contra a venal liberdade, sem medo.
 

Aveiro, 4 de Julho de 2015

 

 

segunda-feira, 13 de julho de 2015

REENCONTRO COM ALBERTO CAEIRO



Imagem retirada da net



REENCONTRO COM ALBERTO CAEIRO
Carlos Pereira
 
 
Por vezes, damos voltas e voltas e mais voltas
para no fim voltarmos ao ponto de partida.
Por que acontece este desígnio iniludível?
Não sabemos. Ou melhor sabemos; não sabemos é dizê-lo
por palavras que todos entendamos.

Se ao menos nesse tempo todo em que fomos completamente inúteis,
olhássemos com naturalidade para as coisas,
mesmo as mais insignificantes como uma flor ou uma pedra;
não para saber o nome da planta ou o seu período de floração e
saber se a pedra é xisto, um pedaço de calcário ou granito,
mas antes, apreciar o belo colorido da flor tratada com esmero
e as arestas bem delineadas da pedra, por mãos hábeis de incógnitos,
jardineiro e canteiro, que emprestam todo o seu saber sensível
para dar beleza ao jardim da nossa vida e tornarem mais agradável
a apreciação sensorial daquilo que nos rodeia.
 
Quando gostamos de algo dizemos que é bonito;
quando não gostamos dizemos que é feio;
quando não é bonito nem feio, dizemos que é diferente.
Mas se é diferente, qual o padrão de referência que usámos;
o bonito ou o feio?
Tenho para mim que quando dizemos que é diferente,
é porque também nessa circunstância não sabemos dizer
por palavras entendíveis a razão intrínseca dessa diferenciação.
 
Nem aos poetas, a quem todos os devaneios da palavra são consentidos,
é permitido afirmar que a natureza é circunstancialmente diferente.

A natureza pode ser mutável e é-o certamente;
poder ser bonita ou feia, mas nunca diferente;
se fosse diferente deixava de ser natureza e
passava a ser um homem, um ser marinho, uma estrela ou um deus.
 
Nunca me senti tão próximo de mim e de ti, poeta,
como neste labirinto de ideias e palavras.
 

 

Aveiro, 11 de Março de 2015

Publicado no Diário de Aveiro




quarta-feira, 1 de julho de 2015

SONETO PARA JOSÉ SARAMAGO







Foto retirada da net



SONETO PARA JOSÉ SARAMAGO
Carlos Pereira
 


Tua escrita, genuína, tem percurso verosímil;
Água límpida de todos os rios do nosso alento.
São flores de todos os jardins de Abril;
São aves a voar e a renascer a cada momento.
 
Nasceste, pobre, em Azinhaga no ano de mil,
922. Enobreceste a Língua com o teu grado talento
E premiaram-te com o Nobel sem seres servil;
Tua obra será sempre um farol de luz, isento.
 
Teu estro tornou teus livros magnânimos,
Sobrelevando a estirpe da nossa Pátria-Mãe;
O mesmo estro que levou as naus mais além.
 
Teu engenho e juízo foram os maiores ânimos
Que elevaram tua obra ao Olimpo dos imortais;
Feito e memória, imperecíveis, para além dos anais.


Aveiro, 29 de Janeiro de 2015

Publicado no Diário de Aveiro

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


sábado, 27 de junho de 2015

O POVO SAÍU À RUA

Adejam, no ar denso, silvos crocitantes.
Avançam, serenos, homens e mulheres
de cravos e palavras em riste.
Há prantos esquecidos em rostos triunfantes.
No esboroar do passado, atro e triste,
cresce um futuro fecundo em saberes
de um povo que teimosamente resiste.

Aveiro, 22 de Junho de 2015

quarta-feira, 3 de junho de 2015

OS ..... NOS IS







Foto de Carlos Pereira



OS ..... NOS IS
Carlos Pereira
 
 
É chegada a hora do . final
e de pôr os ..... nos is
É tempo de Portugal
chamar pelo nome os bois
 
Cada . é um "case study"
e não há . sem nó
Este país é uma "rave party"
onde todo o . mete dó
 
O . seja ele pequeno ou grado
tem a sua própria história
O povo miúdo pode ser enganado
mas não perde a sua memória
 
..... que não são de luz
mas de atra obscuridade
Há gentalha que só produz
a morte da portugalidade
 
O povo lúgubre está em . morto
como carro parado em qualquer . ;
ou como barco a definhar no porto
à espera de alguém que ainda quer - ponto
 
 

Aveiro, 16 de Maio de 2015

 


terça-feira, 2 de junho de 2015

5º ANIVERSÁRIO



Imagem retirada da Net



O meu blogue faz, hoje, 5 anos de existência. A todos aqueles que lêem e tecem comentários aos meus poemas, acuso com emoção esse propósito, remetendo um abraço de amizade e agradecimento.




sábado, 30 de maio de 2015

A PALAVRA E O POETA







Foto de Carlos Pereira





A PALAVRA E O POETA
Carlos Pereira
 
Sou poeta de versos límpidos e serei
Incapaz de ser doutra forma.
À poesia há muito me dei;
Faço poemas sem regra ou norma.
 
Só às palavras reconheço lei
E com elas a estrofe desenforma
O poema, que a cada dia, renovarei.
A palavra, só amada, se conforma.
 
Da palavra, minha essência e morada,
Serei pertinaz defensor, paladino,
Para que nunca seja, ultrajada.
 
Irmanados defendemos um destino;
Tu permaneças sempre livre, não agrilhoada:
Eu, em cada poema, seja teu peregrino.
 
 

Aveiro, 28 Janeiro de 2015

 

 

 


sábado, 16 de maio de 2015

AMAR







Foto de Salete Pereira



AMAR
Carlos Pereira
 
 
Amar, é a palavra que não te disse e as que nunca te direi.
É o silêncio das nossas vozes caladas ao fim da tarde.
Amar, é o movimento dos dedos, dos gestos,
do estremecer do corpo ante o desejo.
Amar, é o nascer do sol dentro do teu peito; é um rio
de fluxo sereno a desaguar nos teus olhos.
Amar, é sonhar acordado contigo e darmos as mãos
para saber tudo um do outro.
Amar, é isto tudo, e tu.
 

Aveiro, 12.12.2014

 


domingo, 3 de maio de 2015

MONÓLOGO PARA MINHA MÃE







Foto de Salete Pereira










MONÓLOGO PARA MINHA MÃE
Carlos Pereira
 
 
É já longo o caminho
Que percorri
Desde o teu ventre, mãe.
Quando me recordo de ti
Chorando baixinho,
Meu coração chora também.
 
Venho pedir-te
Que não te martirizes:
Eu e os meus irmãos,
Somos felizes!
Sempre que damos as mãos,
Lembramos as nossas raízes.
 
Olha, tenho uma alegria
Para te dar:
Já tens mais netos
E dos mais velhos,
Lindos bisnetos;
Belos espelhos
Para o teu eterno olhar.
 
 
Aveiro, 6 de Fevereiro de 2015
 
Publicado no Diário de Aveiro
 
 
 


quinta-feira, 26 de março de 2015

sexta-feira, 20 de março de 2015

SUBITAMENTE, OU TALVEZ NÃO



Óleo s/ tela de Salete Pereira




SUBITAMENTE, OU TALVEZ NÃO
Carlos Pereira
 
 
Subitamente, ou talvez não, surgiste bela e pura
transbordando intensa luz como se fora o sol
a derramar-se pelas paredes do meu quarto,
dissipando as sombras que me angustiam e
tolhem o discernimento.
Quando digo luz, digo amor ou poema, ou a fusão de ambos,
bacteriologicamente puros na sua essência e
no propósito da sua razão existencial.
Agora, que és cúmplice do meu estado de euforia,
desenho o teu rosto e recorto-o na tela do meu sonho;
assim, a angústia deixará de dormir a meu lado
sempre que te ausentares de mim.
 
 
 

Aveiro, 04.02.2014

 

 

 


quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

TODAS AS COISAS





Foto de Carlos Pereira


TODAS AS COISAS
Carlos Pereira
 
 
Tudo aquilo que nos propomos cumprir,
Está na ordem lógica da execução das coisas.
Porém, o tempo pode ser considerado
Inimigo ou aliado, conquanto a sua consecução
Tenha êxito ou não.
Nesse trajecto as palavras são marcas fascinantes
Na peregrinação do pensamento
Para desvendar o mistério de todas as coisas,
Ou de tudo,
Ou de nada,
Ou do princípio em que as palavras,
Eram apenas palavras a sossegarem
O regresso do nosso desespero,
Porque todas as coisas continuam imóveis
Na nossa memória.
 

 

Aveiro, 13.02.2013

 

 




sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

SOU TUDO SOU NADA




Imagem retirada da Net




SOU TUDO SOU NADA
Carlos Pereira
 
Sou tudo, sou nada na rigidez do êxito
Alvo secreto de infinito desejo
Sou o princípio de um texto
Ausência timorata de um beijo
 
Resquício de sóbria loucura
Nos escombros da lucidez impura
 
 

Aveiro, 16.05.2013