CANAL DE SÃO ROQUE

CANAL DE SÃO ROQUE

Foto de Gabriel Pereira




sábado, 24 de novembro de 2012

A ESPLANADA

 
 
Foto de Carlos Pereira
 
 
 
 
 
 

A ESPLANADA
Carlos Pereira
 
 
Estou sentado na esplanada numa praça
Centenária prenhe de história.
À minha volta estão outras pessoas também sentadas.
Conversam. Não sei do que falam; ouço apenas
Uma algaraviada num rumor babilónico.
Tomo o café em sorvos ritmados num ritual
Tão antigo como esta praça, que outrora foi
Mais buliçosa e cosmopolita.
Havia a livraria do senhor Abraão onde se compravam
Os famigerados, papel selado e selos fiscais que,
Validavam os contratos e as nossas vidas.
Havia a tasca do Agostinho, onde se bebia um copo
De tinto ou branco a borbulhar da pipa ao fim da tarde para,
Dissipar as frustrações do dia.
Nenhum dos circunstantes olha a vetusta praça.
Estão aqui sentados como podiam estar
Noutro lugar qualquer, porque o que os move, é
Aquele cavaquear indistinto que serve de som de fundo
Aos meus íntimos pensamentos e ao olhar saudoso
Para a praça ancestral de brilho balsâmico.
Dou comigo a recordar o bulício que as pessoas
Emprestavam nos afazeres do dia-a-dia.
Quantos dramas transportavam com as suas vidas?
Quantas se detinham (como eu) a olhar a praça para,
Absorver a exalação dos seus odores e a luz
Amenizadora dos dias de incerteza?
Acabei de beber o café. Levanto-me como me sentei;
Indiferente aos olhos deste auditório desapaixonado,
Que não deu por mim, nem olhou a praça.
 
 

Aveiro, 04.06.2012

 

 

 

 

 



quinta-feira, 15 de novembro de 2012

O CAMINHO DOS HOMENS INCRÉDULOS

 
 
Foto de Carlos Pereira
 
 
 
 
 
 
O CAMINHO DOS HOMENS INCRÉDULOS

Carlos Pereira
 



O caminho dos homens incrédulos é duro,

mas pode ser suavizado pela dúctil esperança

que embala os sonhos e

castra a raiz à descrença

e à dor fragmentada que agoniza os dias.
 


O caminho dos homens incrédulos é longo,

mas pode ser encurtado pelo pensamento amotinado

que refresca o ar da respiração.
 


O caminho dos homens incrédulos é um livro,

com muitas páginas em branco que, teimosamente é lido,

da frente para trás, para de uma forma consciente e deliberada,

tomarmos conhecimento antecipado das palavras

que arquitetam a nossa memória final.
 
 

Aveiro, 30.04.2012


 

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

O ÚLTIMO VERÃO

 
 
Foto de Carlos Pereira
 
 
 
 
 
 
 
O ÚLTIMO VERÃO
Carlos Pereira
 
Os últimos raios de sol invadem-me como carícias das tuas mãos meigas
Nadei até á exaustão no mar dos teus seios
e ao chegar à última onda
debrucei-me para enfeitar os teus cabelos com os peixes de prata
que apanhei na praia quando descalcei os sapatos à maré vaza
 
Segredaste-me que era o último verão que passávamos juntos
 
Era a tua derradeira esperança de me veres chorar
 
Garanto-te que não vou chorar, nunca choro nas despedidas
 
Só admito chorar ou o mar por mim
se nele não encontrar estrelas
para pendurar no tecto do teu céu como te prometi
 
 
Aveiro, 19.04.2012