CANAL DE SÃO ROQUE

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Foto de Gabriel Pereira




sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

MORFEU E EROS

 
 
Foto de Carlos Pereira
 
 
 
 
 
 

MORFEU E EROS
Carlos Pereira
 
 
Chego a casa quando a noite
já sonha contigo o voo das aves,
órfãs de asas e do canto,
cuja melodia são rios tumultuosos com barcos
abandonados, onde embarcamos para
prolongar a noite de subtis instantes.
Que Morfeu nos conceda a sua habilidade
para que se cumpra a viagem hipnótica
até ao prado, onde se sentam os deuses
de todos os diálogos possíveis e
onde se deita Eros que nos livrará do caos.
 
 
Aveiro, 18.01.2013
 


domingo, 22 de dezembro de 2013

FUTURO

 
 
Foto de Carlos Pereira
 
 
 
 
 
 

FUTURO
Carlos Pereira
 
Há coisas por desvendar do passado,
sequestradas na gaveta da memória.
Ficaram para lá da porta quando saímos para o futuro;
mas o futuro é uma ilusão, não existe;
é uma invenção do homem para não viver o presente
e esquecer o passado.
 
O futuro é uma palavra que se criou a si própria,
para aliviar a consciência dos falsos egos puristas,
para desculpar a demência dos falsos humanistas.
 

Aveiro, 15.03.2013

 

 



sábado, 30 de novembro de 2013

EMOÇÃO

 
 
Foto de Carlos Pereira
 
 
 
 
 
EMOÇÃO
Carlos Pereira
 
Se porventura te deitares lado a lado
com o meu sonho, inclina-te sobre mim
com os olhos incendiados de desejo
como quem antecipa a apoteose do amor.
Depois, resgata toda a emoção desse momento único
como se fosse derradeiro
e guarda-o, silenciosa, no teu coração.
 
Aveiro, 05.11.2013

 
 
 
 
 

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

É INÚTIL

 
 
Foto de Salete Pereira
 
 
 
 
 

É INÚTIL

Carlos Pereira
 
 
 

É inútil,
 
Tentarmos percorrer a rota dos teus cabelos até ao meu

desejo,
 
Se não tivermos disponível toda a solidariedade dos nossos

corpos.
 
Fiquemos, apenas, pelo mordiscar dos lóbulos das orelhas

do nosso amor futuro.
 
Ainda assim, seremos felizes, muito felizes;
 
O bastante para acreditarmos no enlevo das mãos
 
A acariciar por fora da lingerie da tua pele e por dentro
 
Das nossas veias, cujo sangue nos fará recomeçar tudo de

novo.
 
 
 
 Aveiro, 14.04.2012

 



quarta-feira, 16 de outubro de 2013

DIVAGAÇÕES

 
 
Foto de Carlos Pereira
 
 
 
 
 
 
 
DIVAGAÇÕES
Carlos Pereira
 
 
Ainda sinto o vento do norte a fustigar
A vidraça do nosso encontro matinal.
Havia girassóis à beira da estrada, a despontar
Sorrisos cromáticos num lindo madrigal.
 
Não sei que farei com as palavras dispersas
Ou com o odor campesino que trago nos dedos;
Mas guardarei os silêncios e as conversas
Que sepultaram para sempre os nossos medos.
 
 
Aveiro, 11.02.2013
 
 



sexta-feira, 20 de setembro de 2013

O POETA E O FARISEU

Foto de Carlos Pereira







O POETA E O FARISEU
Carlos Pereira

Restam-me estes dias sincronizados com o tempo
E a vida; vulgares e com gente vulgar como eu,
Que sorri com as flores mesmo que chegue a destempo
O sol, por ter adormecido na cama azul do céu.

O draconiano calendário nunca será contratempo
Na rejeição dos prazeres mundanos por parte do plebeu.
Outros cantos e sórdidos hábitos são passatempo
Dos que, ufanos, ostentam a nossa vida como troféu.

Não obstante o enganar sistemático do fariseu,
Não deixarei de olhar a planura dos verdes vales
Nem a força da onda salgada que nos tempera.

Tens dons de retórica mas nunca um poema, filisteu,
Farás, por muito que leias, escrevas ou fales;
Será sempre o poeta a criar a esperança na espera.

Aveiro, 13.01.2013
Publicado no Diário de Aveiro
in "GRAPHEIN"  Coletivo de Autores  - Edições Vieira da Silva 2017



sexta-feira, 6 de setembro de 2013

ESCREVO PALAVRAS

 
 
Foto de Carlos Pereira
 
 
 
 
ESCREVO PALAVRAS
Carlos Pereira
 
 
Escrevo palavras
não por necessidade
nem por vaidade:
escrevo-as por devoção.
 
Gosto das palavras
que me atiram para fora de mim,
para fora dos trilhos comuns;
das que me questionam,
no princípio no meio e no fim.
 
Gosto também
das palavras faladas
que antecedem a ovação.
Não gosto das que se acomodam na conspiração;
tão pouco das palavras censuradas
por um qualquer “ filho da mãe”.
 
 
Aveiro, 29.03.2013
 
 
 
 



domingo, 18 de agosto de 2013

MOMENTOS

 
 
Foto de Carlos Pereira
 
 
 

MOMENTOS
Carlos Pereira
 
 
Sustêm a respiração se vires o voo da águia
suspensa no céu da imutável planície.
 
Sublima a emoção silenciosa e límpida
desse momento livre, de calmaria etérea,
em que as palavras não são necessárias
para glorificar toda a terra.
 
Deixa que a lentidão do vento,
traga a harmonia dos gestos apoteóticos
na ondulação do trigo e
a sublimação da raiz materna no centro do mundo.
 
Deixa tanger as cordas retesadas da natureza
para que a música se expanda do seu interior
em suaves cânticos.
 
Fecha os olhos e abre as asas do teu coração
e voa como a águia na plenitude dos dias.
 


Aveiro, 14.05.2013
 
Publicado no Diário de Aveiro

 

 

 

 
 
 



terça-feira, 13 de agosto de 2013

PROBABILIDADES

 
 
Foto de Carlos Pereira
 
 
 
 
 
PROBABILIDADES
Carlos Pereira
 
Se por acaso me vires: olha
o interior do meu corpo,
espaço árido;
tão árido que, provavelmente,
nem os teus mais húmidos beijos
dissipam a minha sede.
 
Ainda assim, beija-me,
posso estar errado.
 
 
Aveiro, 20.01.2013
 
 



sexta-feira, 9 de agosto de 2013

VOLUMETRIA DO VALOR

 
 
Foto de Carlos Pereira
 
 
 
 
 

VOLUMETRIA DO VALOR
Carlos Pereira
 


Tudo: pode ser

muito, pouco ou coisa nenhuma.

Do ponto de vista artístico pode ser muito

ou quase tudo.

Do ponto de vista emocional pode ser pouco

ou quase nada.

Do ponto de vista metafísico pode ser ínfimo

ou coisa nenhuma.

Os olhos e o coração, é que quantificam

a volumetria do valor.

A mim, cabe-me apenas, aceitar os seus desideratos.
 

Aveiro, 19.02.2013
 




sexta-feira, 2 de agosto de 2013

RIA MINHA AMADA

Foto de Carlos Pereira
 
 
 
 
 
 
 

RIA MINHA AMADA
Carlos Pereira
 
 
Alta vai a noite e tu, ó ria, ainda acordada
De braço dado com a lua a velar o teu moliceiro.
Cantas canções de embalar até de madrugada
Para adormeceres o teu amor de sempre: Aveiro.
 
Do ventre azul das tuas salinas nasce o sal. A nortada
É o seu alimento e o sol, fiel companheiro.
Do alto da capela de São Gonçalinho, és abençoada,
Para que navegue sem sobressalto o velho salineiro.
 
Ao longo das tuas margens sustentas os povos,
Desde Ovar até Mira, com a mesma generosidade.
Das tuas águas emanas luz e nascem sonhos novos.
 
Arrais, pescadores e varinas são teus amigos dilectos.
Os catraios aprendem a arte da pesca com sagacidade
E histórias que o avô conta, entre traquinices e afectos.
 
 

Aveiro, 20.04.2013
Publicado no Diário de Aveiro