CANAL DE SÃO ROQUE

CANAL DE SÃO ROQUE

Foto de Gabriel Pereira




domingo, 17 de dezembro de 2017

Ó PAI, VAMOS BRINCAR, A QUÊ?



Foto de Salete Pereira






Ó PAI, VAMOS BRINCAR, A QUÊ?
Carlos Pereira




Já vai longo o rio de sangue que nos une
e a nascente que ficou para trás persegue-me.
Há memórias e imagens que flutuam
nesse rio de sangue; planície fértil, alento,
âncora da nossa feérica existência.
Nada tenho para deixar a não ser,
a certeza de vos querer bem.
Não conspurquem a Natureza nem desmotivem
o sensato movimento da Terra.
Olhem o entardecer crepuscular à beira-mar;
façam-no por mim, ainda que esse gesto, seja
uma luz ínfima para evitar
o desmoronamento da casa-Mãe.
Nunca vos disse do amor que nutro; 
o amor não se diz, não é palpável, sente-se
desde a raiz das veias até à copa da alma.
O vosso choro infantil é nostalgia redobrada,
e o vosso olhar, aceitando-me com os defeitos
do barro criador, penetra-me a carne,
com a mesma felicidade quando vos ouvia:
Ó pai, vamos brincar, a quê?



Aveiro, 19 de Junho de 2017
Publicado no Diário de Aveiro








sexta-feira, 30 de junho de 2017

ENTRE A RAIZ E A SEMENTE

Foto de Gabriel Pereira





ENTRE A RAÍZ E A SEMENTE

Carlos Pereira



Ó força brutal! Ó fúria

desmedida!

Não é de incúria

que vive a vida.



Ó breve momento

entre a raiz e a semente;

quem faz da vida um lamento,

morre tão lentamente.




Aveiro, 28 de Junho de 2015
Publicado no Dário de Aveiro




quarta-feira, 17 de maio de 2017

UM DEUS MENINO



Imagem retirada da net



UM DEUS MENINO
Carlos Pereira

Todo o mundo me cabe na mão
tão grandes são as raízes dos dedos.
No coração cabe-me toda a terra enxuta
e um deus menino que me escuta
e conta todos os seus segredos,
para que seja meu irmão.


Aveiro, 8 de Outubro de 2015
Publicado no Diário de Aveiro


quarta-feira, 19 de abril de 2017

DOCE SENSAÇÃO



Foto de Carlos Pereira






DOCE SENSAÇÃO
Carlos Pereira

É de espanto o meu olhar
perante o nascer do dia
no areal dos teus passos.


Inebriado fico
no interior do mel quente
dos teus braços.



Aveiro, 21 de Junho de 2015
Publicado no Diário de Aveiro



domingo, 19 de março de 2017

DIA DO PAI



Foto de Carlos Pereira




o poema mais puro habita em mim. por isso
sei-o de cor. o meu pai levava-me às
cavalitas porque era de noite e eu não via
onde punha os pés. o meu pai atravessou
o esteiro a nado, comigo às costas, porque eu
ainda não sabia nadar e o regresso a casa
era mesmo ali depois da outra margem.


Aveiro, 24 de Fevereiro de 2015

sábado, 25 de fevereiro de 2017

FRAGMENTOS


Foto de La Salete Pereira




FRAGMENTOS
Carlos Pereira


Palavras síncronas, modestas e audazes,
atravessaram a pauta metálica
de um bosque de teclas e cordas,
em vibratos aéreos,
tangidos por virgem sedenta de acordes de sémen,
no ventre primaveril de uma aurora prenhe
por astros aburguesados de cio.

Fragmentos marmóreos de um seio lunar,
alimentam os luzeiros trémulos
que hão-de guiar o barco universal
na libertação dos mastros e
das marés desconchavadas
de malditos mares.

Raízes ancestrais,
descem às profundezas aquíferas do mar Egeu,
dele bebendo e alimentando-se de estilhas
de barco adormecido no seu leito primevo,
na procura da ânfora guardiã
da sabedoria suprema de Hipócrates e
da celestial beleza de Helena, a divina rainha.

Aveiro, 11 de Outubro de 2016

In ”GRAPHEIN” Coletivo de Autores – Edições Vieira da Silva 2017

Publicado no Diário de Aveiro


terça-feira, 31 de janeiro de 2017

AZUIS



Foto de La Salete Pereira




Dedico este poema à minha querida amiga poeta mágica dos azuis


AZUIS
Carlos Pereira
E os azuis emergem do silêncio
adocicado da noite e,
amanhece mais cedo nos teus olhos
e o poema voa tranquilo nas asas de um pássaro,
também ele azul,
imortalizado nos teus sonhos cromáticos.
E o teu olhar é um rio azul que dessedenta
os cansaços áridos do teu coração
entre as férteis margens do sonho,
onde navegas até ao mar em que o azul,
é a seiva do ar que respiras.
Aveiro, 2 de Maio de 2016
Publicado no Diário de Aveiro