CANAL DE SÃO ROQUE

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Foto de Gabriel Pereira




domingo, 17 de dezembro de 2017

Ó PAI, VAMOS BRINCAR, A QUÊ?



Foto de Salete Pereira






Ó PAI, VAMOS BRINCAR, A QUÊ?
Carlos Pereira




Já vai longo o rio de sangue que nos une
e a nascente que ficou para trás persegue-me.
Há memórias e imagens que flutuam
nesse rio de sangue; planície fértil, alento,
âncora da nossa feérica existência.
Nada tenho para deixar a não ser,
a certeza de vos querer bem.
Não conspurquem a Natureza nem desmotivem
o sensato movimento da Terra.
Olhem o entardecer crepuscular à beira-mar;
façam-no por mim, ainda que esse gesto, seja
uma luz ínfima para evitar
o desmoronamento da casa-Mãe.
Nunca vos disse do amor que nutro; 
o amor não se diz, não é palpável, sente-se
desde a raiz das veias até à copa da alma.
O vosso choro infantil é nostalgia redobrada,
e o vosso olhar, aceitando-me com os defeitos
do barro criador, penetra-me a carne,
com a mesma felicidade quando vos ouvia:
Ó pai, vamos brincar, a quê?



Aveiro, 19 de Junho de 2017
Publicado no Diário de Aveiro








2 comentários:

  1. Lindíssimo poema!
    Um beijo e desejos de um excelente Natal e de um ano novo cheio de bênçãos.

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  2. Porque não dizer do amor? Dizê-lo é florescê-lo ainda mais.
    Magnifico poema paternal.

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