CANAL DE SÃO ROQUE

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Foto de Gabriel Pereira




sexta-feira, 18 de março de 2011

DO BAÚ DA MINHA MENTE





Miniatura
Joselito no filme Marcelino, Pão e Vinho
Imagem retirada da Net







DO BAÚ DA MINHA MENTE
Carlos Pereira




Nas recônditas lembranças improváveis
Do baú da minha mente,
Acendeu uma luz distante, amarela e profusa;
A luz, por ser amarela, só poder ser da torcida
Do candeeiro a petróleo que iluminava
As paredes e os tectos das minhas noites,
Nessa longínqua idade dos seis anos.
Ou seriam sete… talvez oito;
Eram oito com toda a certeza. Já lia bem,
Embora não entendesse tudo o que lia.
(Hoje entendo tudo o que leio,
Embora não leia tudo o que entendo).
Podia ter-me recordado dos deveres da escola;
Feitos à pressa, porque as brincadeiras já esperavam
No palco da rua, onde nos, transformava-mos em actores
De peças sempre improvisadas com cenários transparentes;
De lúcida alegria.
Podia ter rebobinado o filme das batalhas do faz de conta. - Lembras-te mano?
Que bom seria, que nas guerras disparassem só balas de amizade; iguais às nossas.
Podia ter-me recordado das naus que transportavam os nossos sonhos;
As aventuras de marinheiros em mares sem Adamastores.
Mas, o que aporta ao cais da minha memória com uma nitidez imarcescível;
É a recordação da minha primeira matiné, levado pela mão do meu avô materno.
O filme chamava-se, se bem me lembro: Marcelino, Pão e Vinho.
Joselito, o rouxinol das montanhas, com a sua voz, quase divina,
Fazia de conta, tal como nós, no mesmo palco da vida.

Aveiro, 14.03.2011

Publicado no Diário de Aveiro

 Dito no programa de fados e poesia, “Solar da Bairrada”, pelo fadista e poeta José Guerreiro na Rádio Província de Anadia







4 comentários:

  1. Memórias sentidas
    mastros com aves que descansam de tantos voos

    Abraço

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  2. A televisão sempre foi uma caixinha mágica!... Ali estavam sonhos que nos transportavam para a fantasia de mundos tão mágicos quanto a nossa fantasia!... Como vivemos a nostalgia do preto e branco, traduzindo, talvez, a simplicidade das coisas, da vida e o mistério da cor na qual nossas vidas se pintavam; bem diferente da inversão das cores e das vidas destes novos tempos em que o preto e branco tende a tornar-se mais preto no negro de vidas desesperadas!... A fantasia parece ter perdido a cor e o preto e branco da infância, de minha também, significava uma imensidão de cores, a cor que passava da caixa mágica para a cor da fantasia real, também ela cheia de magia!...
    Os sonhos até podem ter perdido a cor, pois o tempo não se compadece e a idade não costuma perdoar pecados voluntários ou involuntários, naturalmente, todavia, a memória é uma oferta onde as características originais dos sonhos mantêm intacta a fantasia da infância!... A cor, apesar de vista através de uma cortina sépia, envelhecida pelo tempo, pinta-nos aquele brilhozinho nos olhos da infância… onde todas as cores estão guardadas até ao “The end”.







    Bom fim de semana




    Abraço

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  3. Do baú da minha mente também saíram imensas memórias assim...
    Um beijo.

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  4. Memórias de infância que nos fazem reviver e voltar atrás no tempo. Do Josélito lembro-me de uma canção que era CAMPANÉRA...não sei se se escreve assim, mas lembro-me que nós cantávamos com ele esta palavra, pois era a mais sonante. Adorei o seu baú de memórias. Beijos com carinho

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